O uso da tecnologia de aplicação, a partir de 2002, revolucionou as plantações de grãos no Brasil. Aquele foi o ano em que a ferrugem asiática dizimava as lavouras de soja, como bem lembra o professor Marco Antônio Gandolfo, um dos fundadores do Instituto Dashen, localizado na cidade de Bandeirantes, no Paraná.
Mas o que é tecnologia de aplicação?
“Tecnologia de aplicação é o emprego de todas as informações, produtos ou técnicas para promover aplicação de agroquímicos com a qualidade necessária para o melhor controle do agente de dano, ao mais baixo custo e menor contaminação ambiental possível”, explica o especialista.
O conceito nasceu na Inglaterra, em 1986, com os primeiros estudos realizados pelo professor Graham Matthews. No Brasil, a proposta inicial surgiu das mãos do também professor Tomomassa Matuo, pesquisador da Unesp de Jaboticabal (SP), exatos quatro anos depois.
Sem essa expertise, hoje nosso país não lideraria as exportações mundiais do complexo soja superaria produções recordes de 200 toneladas. Desde então, o uso da tecnologia de aplicação popularizou-se entre as demais culturas.
Cultivar, estádio da planta, praga, doença, produto, clima, temperatura, umidade do ar, condição de vento, volatilidade de produto, compatibilidade de calda, manutenção e regulagem dos pulverizadores evoluíram para métricas de eficiência.
FONTES DE PERDAS NA PULVERIZAÇÃO AGRÍCOLA | |
Fator de Risco | *Potencial de Perda |
Espuma no tanque | 40% |
Incompatibilidade de calda | 10% |
Deriva | 45% |
Qualidade da água | 30% |
Escorrimento | Escorrimento |
Estresse da Planta | 40% |
Equipamentos | 35% |
Chuva | 100% |
*Escalas de 0 a 100%
Tipos de perdas na pulverização
As duas principais fontes de perdas na pulverização podem ser divididas em dois grupos: ambientais e agronômicos. “Fatores ambientais elevam o potencial de perdas por deriva, evaporação, volatilidade do produto e lavagem”, esclarece o professor do Instituto Dashen.
Chuva, vento, umidade e temperatura são fatores ambientais. Todos eles devem ser rigorosamente respeitados. Adjuvantes com tecnologias mais avançadas, a exemplo daqueles com a tecnologia TransRapid™, podem contribuir com a redução das perdas causadas por alguns destes fatores, uma vez que conferem maior velocidade de absorção dos produtos pelas plantas.
A pulverização deve ser feita apenas quando a temperatura estiver entre 20º C e 30º C. “Com temperaturas baixas, as plantas reduzem o metabolismo, dificultando absorção. Já temperaturas altas favorecem evaporação das gotas e fitotoxicidez, dependendo do produto”, informa Lucas Rafael Maesta Dias, especialista em Tecnologia de Aplicação da Rovensa Next Brasil.
O mínimo de 55% de umidade relativa do ar também precisa ser considerado, pois gotas pequenas tendem a evaporar rapidamente. Por isso, manhã e final da tarde são momentos mais favoráveis à pulverização. Pelo mesmo motivo, uma escala específica de velocidade de vento é desejada.
“O ideal são ventos entre 3 e 10 km/h. Acima disso causam deriva das gotas por uma distância de vários metros e até quilômetros, dependendo do método utilizado, e, sem vento, pode ainda ocorrer perda de gotas por inversão térmica”, explica o especialista em Tecnologia de Aplicação da Rovensa Next Brasil.
A deriva caracteriza-se por duas classes distintas, a exoderiva, vista acima, na qual as gotas são carregadas para fora do local desejado, e a endoderiva, que ocorre no mesmo talhão, onde o excesso de produto escorre pela folha sem que possa ser absorvido.
Uma classe de adjuvantes muito conhecida são os antiderivas, como é o caso do AIRTRUCK™. Trata-se de um produto cuja finalidade é reduzir as perdas causadas pela deriva, em situações em que o vento está um pouco acima das condições ideais de pulverização.
Trabalhos realizados no Instituto Dashen mostraram que o produto AIRTRUCK tem se destacado em relação a alguns quesitos, tais como aumento do DMV (Diâmetro Mediano Volumétrico, AR (Amplitude Relativa) e Redução do Percentual de gotas menores que 100 micrometros (Gráfico 1).
Gráfico 1: Percentual de gotas menores que 100 micrometros
Fonte: Instituto Dashen
Já os fatores agronômicos resumem-se ao depósito. “Depósito é a quantidade de produto que chega à planta e cobertura é como ele se distribui nela”, distingue Gandolfo.
Em outras palavras, se um mínimo de agroquímico não atingir o alvo pretendido, aumenta-se a resistência e tolerância dos agentes de dano ao tratamento.
Elementos da calda na tecnologia de aplicação
Os produtos químicos respondem de forma diferente quando combinados e existe uma sequência definida para colocá-los dentro do tanque, como pode ser visto nesta Figura.
“É importante seguir a ordem de mistura dos produtos e realizar pré-mistura em alguns casos. Ainda se faz necessário o uso de um bom adjuvante para garantir ótima homogeneização”, recomenda Dias, que observa caldas sendo elaboradas com volume muito abaixo do indicado.
Entupimento de bicos e perda do filtro são apenas alguns dos problemas gerados, o pior é dosagem errada de produto.
“É muito importante que a concentração do produto não sofra variações durante a aplicação, para que favoreça a distribuição da mesma dose em toda a cultura”, complementa o professor Gandolfo.
De acordo com ele, um erro comum ocorre no uso de produtos com formulação WP (pó molhável) na pulverização.
“Alguns fungicidas do mercado com formulação WP são praticamente insolúveis. Como é usado em grande quantidade acaba entupindo os filtros”, lamenta.
Somente um adjuvante de última geração, como é o caso de WETCIT GOLD®, consegue homogeneizar a calda e permitir sucesso durante toda a aplicação.
Diâmetro de gota depende do objetivo
A análise dos fatores ambientais e agronômicos em conjunto permitirão determinar o espectro de gotas apropriado para cada situação e sua respectiva taxa de aplicação.
Cada tipo de agroquímico requer um diâmetro mediano volumétrico (DMV) de gota específico.
Seja ele um fungicida sistêmico ou um herbicida de contato, por exemplo, este é um parâmetro a ser observado, para que se obtenha a máxima eficiência de cada produto.
“As principais características que influenciam no tamanho das gotas estão relacionadas aos atributos físicos da calda, como viscosidade e tensão superficial. Quanto maiores os valores de viscosidade e tensão superficial, maior a força necessária para a pulverização”, aponta o professor Gandolfo.
Fungicida sistêmico requer pulverização com gotas finas a médias, gerando cobertura em torno de 50 a 70 gotas por cm2.
Para fungicidas de contato, o ideal são gotas muito finas e finas, proporcionando cobertura de 70 gotas por cm2 ou superior.
Herbicidas pré e pós-emergentes sistêmicos, como também são translocados, aceitam gotas médias e grossas a muito grossas, produzindo de 20 a 30 gotas por cm2. Já para herbicidas pós-emergentes de contato recomendam-se gotas finas e médias a médias e grossas, proporcionando de 30 a 40 gotas por cm2.
Inseticidas sistêmicos requerem gotas médias e grossas, com uma cobertura de 20 a 30 gotas por cm2 e os de contato, gotas finas e médias, resultando na cobertura de 50 a 70 gotas por cm2.
Para os adubos foliares, gotas médias, com um mínimo de 40 gotas por cm2, são desejadas.
Gotas inferiores a 100 micras (µm) – igual a espessura de um fio de cabelo – precisam ser evitadas, pois são facilmente deriváveis, e aquelas muito acima de 500 µm podem ocasionar escorrimento.
ESCALA DAS GOTAS DE PULVERIZAÇÃO | |
Tamanho | Micrometros (µm) |
Extremamente Fina | < 60 |
Muito Fina
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61 – 105 |
Fina
|
106 – 235 |
Média
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235 – 340 |
Grossa
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341 – 403 |
Muito grossa
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404 – 502 |
Extremamente grossa:
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503 – 665 |
Ultra Grossa | > 665 |
Fonte: Rovensa Next Brasil
Ajuste da taxa de aplicação
A taxa de aplicação refere-se à quantidade de calda pulverizada por hectare. Se a intenção é aplicar 100 litros por hectare, por exemplo, o pulverizador tem de ser calibrado para que asperja os 100 litros em 10.000 m2.
“Taxa de aplicação é um assunto delicado. Não existe uma média para todas as situações. É totalmente dependente do tipo de cultura, altura, estágio de desenvolvimento da planta e da real necessidade de cobertura da folhagem”, adverte Lucas Dias, da Rovensa Next Brasil.
Até na mesma cultura pode variar bastante. Tomando um pomar de laranja como exemplo, se ele é recém-plantado, necessita de taxas baixas de aplicação, apenas o suficiente para atingir uma boa área de cobertura na folhagem.
Quando atinge o pleno desenvolvimento, alterna-se para taxas maiores, para garantir a cobertura de toda a copa da planta.
Evite erros com a Tecnologia de Aplicação
Tanto para o professor Gandolfo quanto para Lucas Dias, o grande desafio atual da tecnologia de aplicação é a tentativa frustrada de o produtor utilizar sempre o mesmo modelo de ponta para toda e qualquer situação. Infelizmente, esta prática gera muitas perdas na eficiência da aplicação.
Pressão é outro assunto que requer mais atenção e a dica é seguir rigorosamente as vazões pré-estabelecidas pelo fabricante das pontas. Muitos são os modelos disponíveis no mercado e cada uma tem uma função específica.
Em resumo, para aplicação de adubos foliares, inseticidas e fungicidas, tanto sistêmicos quanto de contato, a ponta Cone Vazio é a mais indicada. Ela produz gotas com padrão mediano e uma excelente cobertura.
Para a aplicação de herbicidas, recomenda-se o uso de pontas com maior orifício e menor pressão; se possível, ainda utilizar pontas com indução de ar, que produzem gotas maiores e com menos capacidade de deriva, detalha Dias.
PRODUTO | PONTA | GOTA | µm | COBERTURA |
Inseticida de Contato | Cone Vazio | Muito finas e finas | <150 a 250 | Excelente |
Inseticida Sistêmico | Cone Vazio | Muito finas e finas | <150 a 250 | Excelente |
Fungicida de Contato | Cone Vazio | Muito finas e finas | <150 a 250 | Excelente |
Fungicida Sistêmico | Cone Vazio | Muito finas e finas | <150 a 250 | Excelente |
Herbicida de Contato | Leque Plano Simples | Variadas | Todos | Mediana |
Herbicida Sistêmico | Leque Plano /indução de ar | gotas mais grossas | > 300 | Mediana |
Adubo Foliar | Cone Vazio | Muito finas e finas | <150 a 250 | Excelente |
Troque a ponta de pulverização
Como observado, manter a mesma ponta em todas as situações pode gerar desperdício, comprometer a cobertura, o depósito e a eficácia do tratamento.
“Vão acertar uma vez e errar muitas”, adverte o professor Gandolfo. Até mesmo no estabelecimento de uma única cultura as pontas podem variar. Vejamos o exemplo da soja.
Antes de semear desseca-se com herbicida através de pontas de gotas médias a grossas (Ponta Leque Plano/indução de ar).
Daí para frente, as aplicações futuras de fungicidas e inseticidas serão com uma ponta tipo Cone Vazio, com vistas a maior cobertura, mantendo-a quando a cultura estiver totalmente fechada.
Ajustes do pulverizador
O ajuste do manômetro é feito em BAR e a calibragem depende de alguns detalhes primordiais como a distância existente entre os bicos, a velocidade de vazão e a taxa de aplicação.
Aqui, mais uma vez, é necessário seguir à risca a tabela que acompanha as pontas.
“Pressão excessiva forma gotas muito finas, elas podem ocasionar deriva e também desgaste das pontas. Com pressão muito baixa, o produto não atinge o alvo desejado, formando também gotas muito grossas”, orienta Dias.
Acompanhe na tabela os valores estabelecidos pela Nozziles Boquilas para as pontas AD-IA 02 (Leque Plano Simples com indução de ar).
Note que para uma taxa de aplicação de 107 l/ha e velocidade de 10 km/h o ajuste correto é de 3,4 BAR de pressão.
O distanciamento entre as pontas também determina a altura da barra do pulverizador.
Se a distância entre uma e outra é de 50 cm, por exemplo, a altura entre a barra e a cultura tem de ser os mesmos 50 cm. Muito longe da cultura causa deriva, muito perto, escorrimento do produto.
Caldas de difícil dissolução ou com problemas de compatibilidade podem ser prejudiciais, causando entupimento frequente dos filtros, bem como, podem levar ao desgaste prematuro das pontas. Não há regra para trocá-las, mas elas possuem vida útil.
Em média, as pontas de cerâmica duram 400 horas e as de náilon 200 horas. “Gasta-se 5 minutos para fazer todas as trocas”, calcula o professor Gandolfo.
Mais eficiência na pulverização
Adjuvantes que promovem boa homogeneização, como WETCIT GOLD®, auxiliam muito nesse ponto: evitam paradas constantes para desentupimento de pontas; evitam fitotoxicidez na cultura, causada por alta concentração de ativo em determinados pontos.
Também podem evitar a perda total da calda quando da ocorrência de alguma incompatibilidade de baixa complexidade; podem manter o sistema interno do pulverizador sempre limpo e livre de resíduos; etc.
Tratando-se ainda de caldas de difícil dissolução, é altamente recomendável que os filtros sejam vistoriados com frequência. Ele é um bom indicativo da qualidade da calda de forma geral.
O fundador do Instituto Dashen também chama atenção em relação ao pulverizador. “Máquinas com sistema de agitação deficiente permitem que os produtos se separem no tanque ou no circuito hidráulico, variando a dose aplicada”, diz.
Fica claro que a tecnologia de aplicação possui muitos detalhes a ser considerados, sendo impreterível o auxílio de um engenheiro agrônomo de confiança para tomada das melhores decisões.
Ele ou ela poderá decidir quando optar por uma ponta simples, dupla ou com indução de ar, escolher o melhor surfactante espalhante, antideriva ou de rápida absorção, avaliar a abrasividade em cada solução, bem como o uso de agentes modificadores que não alterem o pH da água.
O especialista em Tecnologia da Aplicação da Rovensa Next Brasil afirma categoricamente ser possível aumentar a eficiência da pulverização, tomando os cuidados abordados neste post.
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